6/23/2007

O noivado do sepulcro!!!!!!!

O noivado do sepulcro
Vai alta a Lua. Na mansão da morte
Já meia noite com vagar soou;
Que paz tranqüila! Dos vai vens da sorte
Só tem descanso quem ali baixou

Que paz tranqüila!... Mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu
Branco fantasma, semelhante a um monge.
Dentre os sepulcros a cabeça ergueu

Ergue-se, ergue-se!... na amplidão celeste.
Campeia a luz com sinistra luz
O vento geme no feral cipestre,
O mocho pia na marmórea cruz

Ergue-se, ergue-se!... Com sombrio espanto
Olhou na roda... Não achou ninguém
Por entre os campos arrastados, o manto
Com lentos passos caminhou além

Chegando perto duma cruz alçada
Que entre os cipestres, alvejava ao fim.
Parou, sentou-se e com voz magoada,
Os ecos tristes acordaram assim.

“Mulher formosa, que adorei na vida
E que na tumba não cessei de amar
Por que atraiçoadas, desleal, mentida.
O amor eterno que te ouvi jurar?”

Amor! Engano que na campa finda
Que a morte despede ilusão falaz:
Quem dentre os vivos se lembrará ainda
Do pobre morto que na terra jaz?

Abandono neste chão repousa
Há já três dias, e não vens aqui...
Ai! Quão pesada me tem sido a lousa
Sobre este peito que bateu por ti!

Ai! Quão pesada me tem sidos e em meio
A fronte exausta lhe pendeu na mão
E, entre soluços arrancou do seio
Fundou suspiro de cruel paixão
[...]
E, ao som dos pios do cantar funéreo
E, à luz da Lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado d’infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia, então
Mais que uma tumba funeral vazia
Quebrada a lousa por ignota mão

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó
Dois esqueletos, um outro unido
Foram achados num sepulcro só.
Soares pessoa

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