11/30/2006


Aos leitores amigos

"Poetas não podem calar-se,
Querem às turbas mostrar-se.
Há de haver louvores, censuras!
Quem vai confessar-se em prosa?
Mas abrimo-nos sob rosa
No calmo bosque das musas.

Quanto errei, quanto vivi,
Quanto aspirei e sofri,
Só flores num ramo - aí estão;
E a velhice e a juventude,
E o erro e a virtude
Ficam bem numa canção. "
(GOETHE)

“THE ‘SLES OF GREECE!...”(DE DON JUAN)


Ilhas da Grécia! Ó Grécia as ilhas,
Lá onde a ardente Safo amou, escreveu
De onde as artes da guerra e paz são filhas,
E onde Delos surgiu, Febo nasceu!
O eterno estio as doura sempre e ainda,
Mas só o sol resta de uma glória finda.


De Chios e de Teos a nobre musa,
Harpa do herói como do amante a lira,
A fama tem que em vós se lhe recusa.
Que sua pátria é muda e não admira.
Os sons que ecoam mais além do oceano
Onde eram ilhas de Quimera e engano

Lá do alto as serras fitam Maratona,
E Maratona os olhos põe na enseada
Meu pensamento ali flutuando à tona
Sonhava com uma Grécia libertada
Se o túmulo dos Persas eu pisava
Havia eu de ser escrevo em terra escrava?

Um grande rei no promontório um dia
Que se ergue dominando Salamina,
Contou navios mil nesta baía
E os homens por nações-era supina
A sua força à luz da madrugada!
E ao sol poente, o que restava? Nada


E os vencedores onde estão? E tu,
Ó minha pátria? Aonde a tua voz
Que já não se ouve? Aonde o peito nu
Desses heróis que havia antes de nós?
A lira que cantou tais glórias idas
Há-de cair em mãos enfraquecidas?
Existe todavia na vileza,
Ainda que preso a acorrentada raça
Algo que é no patriota uma tristeza,
E é no meu rosto um fogo que não passa
Ao poeta, a sorte esta miséria tece-a:
Corar dos gregos, e chorar a Grécia.

Suspiramos pelo tempo antigo?
Nossos avós seu sangue derramaram
Ó Terra dá-nos do teu seio amigo
De Esparta alguns que se sacrificaram!

11/18/2006

Rola, Oceano profundo e azul sombrio, rola!
Caminham dez mil frotas sobre ti, em vão;
de ruínas o homem marca a terra, mas se evola na praia o seu domínio. Na úmida extensão só tu causas naufrágios; não, da destruição feita pelo homem sombra alguma se mantém, exceto se, gota de chuva, ele também se afunda a borbulhar com seu gemido, sem féretro, sem túmulo, desconhecido.

Do passo do há traços em teus caminhos, nem são presa teus campos.
Ergues-te e o sacodes de ti; desprezas os poderes tão mesquinhos que usa para assolar a terra, já que podes de teu seio atirá-lo aos céus; assim o lanças tremendo uivando em teus borrifos escarninhos rumo a seus deuses - nos quais firma as esperanças de achar um portou angra próxima, talvez - e o devolves á terra: - jaza aí, de vez.

Os armamentos que fulminam as muralhas das cidades de pedra - e tremem as nações
ante eles, como os reis em suas capitais - , os leviatãs de roble, cujas proporções levam o seu criador de barro a se apontar como Senhor do Oceano e árbitro das batalhas, fundem-se todos nessas ondas tão fatais para a orgulhosa Armada ou para Trafalgar.

Tuas bordas são reinos, mas o tempo os traga: Grécia, Roma, Catargo, Assíria, onde é que estão? Quando outrora eras livres tu as devastavas, e tiranos copiaram-te, a partir de então; manda o estrangeiro em praias rudes ou escravas; reinos secaram-se em desertos, nesse espaço, mas tu não mudas, salvo no florear da vaga; em tua fronte azul o tempo não põe traço; como és agora, viu-te a aurora da criação.

Tu, espelho glorioso, onde no temporal reflete sua imagem Deus onipotente;
calmo ou convulso, quando há brisa ou vendaval, quer a gelar o pólo, quer em cima ardente a ondear sombrio, - tu és sublime e sem final, cópia da eternidade, trono do Invisível; os monstros dos abismos nascem do teu lodo;
insondável, sozinho...