11/18/2006

Rola, Oceano profundo e azul sombrio, rola!
Caminham dez mil frotas sobre ti, em vão;
de ruínas o homem marca a terra, mas se evola na praia o seu domínio. Na úmida extensão só tu causas naufrágios; não, da destruição feita pelo homem sombra alguma se mantém, exceto se, gota de chuva, ele também se afunda a borbulhar com seu gemido, sem féretro, sem túmulo, desconhecido.

Do passo do há traços em teus caminhos, nem são presa teus campos.
Ergues-te e o sacodes de ti; desprezas os poderes tão mesquinhos que usa para assolar a terra, já que podes de teu seio atirá-lo aos céus; assim o lanças tremendo uivando em teus borrifos escarninhos rumo a seus deuses - nos quais firma as esperanças de achar um portou angra próxima, talvez - e o devolves á terra: - jaza aí, de vez.

Os armamentos que fulminam as muralhas das cidades de pedra - e tremem as nações
ante eles, como os reis em suas capitais - , os leviatãs de roble, cujas proporções levam o seu criador de barro a se apontar como Senhor do Oceano e árbitro das batalhas, fundem-se todos nessas ondas tão fatais para a orgulhosa Armada ou para Trafalgar.

Tuas bordas são reinos, mas o tempo os traga: Grécia, Roma, Catargo, Assíria, onde é que estão? Quando outrora eras livres tu as devastavas, e tiranos copiaram-te, a partir de então; manda o estrangeiro em praias rudes ou escravas; reinos secaram-se em desertos, nesse espaço, mas tu não mudas, salvo no florear da vaga; em tua fronte azul o tempo não põe traço; como és agora, viu-te a aurora da criação.

Tu, espelho glorioso, onde no temporal reflete sua imagem Deus onipotente;
calmo ou convulso, quando há brisa ou vendaval, quer a gelar o pólo, quer em cima ardente a ondear sombrio, - tu és sublime e sem final, cópia da eternidade, trono do Invisível; os monstros dos abismos nascem do teu lodo;
insondável, sozinho...

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